Terá início no próximo domingo (20) mais uma edição da Copa do Mundo de Futebol, que é disputada de quatro em quatro anos. E muito antes da bola rolar nos gramados do Catar, país asiático, mas que fica em uma região da Ásia mais conhecida como Oriente Médio, muitos problemas têm sido levantados desde que o país, uma monarquia absolutista, foi escolhido pela Fifa para sediar o evento.
Acredito que as críticas feitas à escolha como sede não sejam apenas devido ao país ser árabe e de religião islâmica. Os duros apontamentos feitos ao pequeno emirado, com cerca de 3 milhões de habitantes, se deve ao fato da maneira com os trabalhadores foram tratados ao longo do processo de construção dos estádios, principalmente.
Relatos de diversas ONGs (Organização Não Governamental) apontam que muitos trabalhadores executaram serviços de maneira muito precária e em condições análogas à escravidão. Isso sem citar as condições extremamente desumanas dos alojamentos e carga horária muito além do que a própria legislação do país determina.
A carga horária excessiva, baixa remuneração, condições precárias de acomodação, o forte calor, devido ao país estar em uma região desértica, que em alguns períodos as temperaturas podem chegar a 50°C, muitos dos trabalhadores tiveram seus passaportes retidos quando entraram no país para executar o trabalho. Importante destacar que muitos desses operários são de países africanos, da Índia e de outros países mais pobres, próximos ao Catar.
Devido ao número de questões levantadas por vários órgãos e centenas de mortes registradas e trabalhadores feridos de maneira muito grave, integrantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estão presentes no Catar e desde então mantém contato permanente com as entidades do país e tem amenizado, um pouco, parte dos problemas apresentados pela classe trabalhadora.
Em relação aos costumes, acredito que não é o caso de abordarmos aqui, afinal, cada país tem sua soberania, sua cultura, história, enfim. Mas, em relação as condições de vida dos trabalhadores, penso ser importante que diversos órgãos façam o acompanhamento até para que esses contratados sejam indenizados de acordo com que determina as relações de trabalho.
Ainda em relação aos problemas de trabalho análogo à escravidão e tudo que a ele está relacionado, algumas confederações de futebol fizeram críticas contundentes, assim como alguns técnicos. A seleção da Dinamarca foi uma das primeiras a se posicionar. Ela pediu que a fabricante de seus uniformes utilizasse frases nos fardamentos de treino dos jogadores, com dizeres sobre os direitos humanos. A Fifa, entidade máxima do futebol, proibiu. Para fazer um protesto silencioso, a seleção dinamarquesa pretende utilizar um uniforme todo preto em homenagem aos operários mortos em decorrência do trabalho.
PRECONCEITO
Tenho acompanhado os debates em relação a realização da copa no Catar desde o início. Acredito, como escrevi acima, que as críticas não sejam em decorrência aos costumes e tudo o que a eles estejam ligados. As considerações às sedes de copa ocorrem conforme a própria sociedade evolui, e sempre é bom lembrarmos que evoluir não seja simplesmente melhorar, pois um doente pode evoluir para óbito. Mas não nos esqueçamos que muitos jornalistas, ativistas de direitos humanos e até mesmo jogadores, teceram muitas críticas quando a Argentina foi escolhida para sediar a copa de 1978, devido a brutal ditadura militar que usurpou o poder em nosso vizinho. Mas essa é uma outra história…
Ivan Gomes, 44, é produtor e apresentador do programa 3 Notas e torcedor do Santos Futebol Clube.