Saudações, mutantes!
Hoje vou apresentar vocês a meus amigos colombianos Daniel e Alejándro González, idealizadores do projeto de Trip-Hop/IDM Losaquis, de Bogotá, cujas apresentações, entre sintetizadores e máscaras alienígenas, são uma experiência sensorial e tanto.
Pra ser sincero, não lembro qual foi meu primeiro contato com Losaquis, mas lembro que foi logo após o lançamento de “Endorfina”, primeiro trabalho do duo. Na mesma época, meados de 2020, eu trabalhei com os irmãos pela primeira vez no som “Allen Iverson”, do projeto Bas-Fond. Além de nós, Nova, do Ocean Key e o rapper potiguar Teagacê se uniram para fechar o time.
No ano seguinte, Losaquis lançou “Raíz”; mais experimental, porém uma sequência natural de “Endorfina”. Meses depois voltei a trabalhar com os irmãos no primeiro disco do Ocean Key. Os irmãos participam de duas faixas: “Dopamine” e “Spectrum”.
No dia 18 de Novembro de 2022, o duo lançou “Yin Yang”, seu terceiro e mais ousado álbum e é sobre ele que vim falar.
. Entre synths obscuros, samplers de caos urbano, vocais assombrosos e batidas pesadas, o canal é aberto com “Heil President!”.
“No Podia ver la Mañana” dá continuidade à viagem. Um trip-hop de aura misteriosa e provavelmente o momento mais sereno do álbum.
Quando tudo parece estar sob controle, “3.00AM” – que soa como um Massive Attack, da era “100th Window”, regado a anfetaminas – chega para confundir a cabeça. Flertando com o IDM, o som conta com a participação da russa Victoria Darian, que divide seus belíssimos vocais com Alejándro.
Em “Alone at the Party” as coisas ficam estranhas e o duo demonstra na prática o porquê do termo Trip-Hop Alienígena. Mesmo que as melodias psicodélicas inspirem (falsas) esperanças, ouvir essa música sobre efeito de lisérgicos pode ser uma experiência aterradora.
Flertando com o experimental, o lado A encerra com “Bite Coin”, que remete a Radiohead, The Chemical Brothers e Lamb lá do início da carreira, e isso, com certeza, é muito positivo.
“Estado de Alerta” – um som introspectivo cuja melodia minimalista grudará em sua mente por dias – abre o lado B. Quando os vocais surgem, o som soa como um cruzamento de Radiohead e Sonic Youth.
“Sístole Diástole”, que traz a participação da estadunidense Meg Bernhard, é um dreampop narcotizante que David Lynch usaria como trilha sonora em um de seus filmes e deixaria Julee Cruise e Elizabeth Fraser orgulhosas.
Em “Interferencia Auditiva” a viagem segue contemplativa e embora suas camadas soem relativamente suaves, é o som mais ruidoso do disco.
“Reptelite” é o momento de encarar o abismo e o abismo encarar de volta. O clima é de tensão e desorientação. Soa como o Tricky de “Nearly God”, porém com roupagem mais atual.
“Fim de La Emissión” encerra a jornada por campos desconhecidos contando com as participações de “narradores” de diversos países — inclusive esse que vos escreve (0:29). Abusando do experimentalismo, os gêmeos alienígenas se despedem em grande estilo. “Yin Yang” é um dos melhores discos que ouvi esse ano. Minha dica pra quem ainda não ouviu é: Apague as luzes, coloque o fone, acenda um incenso ou algo que te apeteça, feche os olhos, abra a mente e faça uma boa viagem.
