Entrevistando MV BILL do banheiro do trampo – Crônicas das Mídias Alternativas

Em 2021 Bill lançou o álbum Voando Baixo e para tal fez algo que cada vez mais é difícil ver: uma coletiva de imprensa. A assessoria do rapper, por meio do Rodrigo Cabral, convidou o Submundo do Som, e outros tantos importantes veículos, para ouvir Alex Barbosa falar de seu novo trabalho e também fazer perguntas sobre o disco. O sentimento foi de extrema felicidade ao ter o corre lembrando, às vezes não temos noção de o que fazemos, as ruas estão observando.

Ainda estávamos no auge da pandemia, então o evento foi online, via Zoom. O problema foi que a coletiva foi marcada para uma quarta-feira, no dia 28 de abril, às 16h00 da tarde. Neste horário, eu ainda tinha mais duas horas de expediente até bater o ponto, pegar o busão e ir pra casa.

Muitos não estão ligados, mas quem administra uma mídia alternativa, como eu e os parceiros de tantos outros portais, não ganhamos um centavo fazendo o que fazemos. Aliás, gastamos para manter um site no ar. Muitos artistas querem cobrar as mídias por não falarem de seus trabalhos, mas também não contribuem nem com o batido tampinha nas costas para incentivar o trabalho. Não consomem e nem compartilham materiais das páginas, só lembram que existimos quando exigem seu release replicado em nossos meios.

Voltando ao causo, a coletiva de imprensa para o disco do MV Bill aconteceria num dia de trabalho, no horário de trabalho. Sou fã do MC, acho Bill um artista e tanto e o álbum Traficando Informação uma das pérolas do nosso rap. Ter a oportunidade de participar dessa coletiva e entrevistar o rapper seria um marco para a minha modesta vida de colunista do underground. Por outro lado, tinha o trampo. Não podia dar um migué e faltar, mas podia dizer que ia ao banheiro…

Quando Rodrigo Cabral me credenciou para o evento, explicou que haveria uma mediadora e cada veículo deveria sinalizar a presença em uma lista de chamada do chat do Zoom. A lista também definiria a ordem com que cada veículo faria suas perguntas para MV Bill. Feito tudo isso, e próximo às 16h30, o evento começa. Bill palestra sobre seu disco: conceito, produção, letras e participações. Na sequência é aberto para a imprensa indagar o rapper sobre os mais variados temas, desde que não fugisse muito da proposta da coletiva, obviamente.

Com fone nos ouvidos escutava Bill e meus colegas. Calculei que até a minha vez ainda demoraria um bom tempo, mas estava atento à minha oportunidade e tudo que era dito. Quando vi que os nomes que assinaram a lista instantes antes que eu já conversavam com Tio Bill, fiquei à postos.

Fui ao banheiro para disfarçar. Sentado no vaso, olhava para a câmera do celular, esperando a convocação. Quando a mediadora fala: “agora com a palavra Jeff Ferreira, do Submundo do Som”, ativei a câmara para que todos me vissem e desmutei o microfone. Com crachá no pescoço e máscara na cara me apresentei, MV Bill me via e agradecia a participação na coletiva. Me dei conta do som abafado e baixei a máscara, então perguntei para Bill sobre uma fala do rapper de alguns anos atrás, onde ele dizia não estar mais afim de lançar álbuns, pois achava que o público não dava a devida atenção como fazem com os singles. MV respondeu que reviu seus conceitos e mudou de ideia, seguiria fazendo discos e Voando Baixo era um abraço quentinho que os fãs do original rap nacional precisavam.

A segunda pergunta, feita ali do vaso sanitário do banheiro da firma, foi se o MC pensava em registrar suas memórias em um livro. Eis então que MV Bill revela que estava trabalhando em um projeto literário. Disse que não podia dar maiores detalhes, mas o livro falaria de momentos como Free Jazz, Faustão, Hotúz, a CUFA e a relação com o saudoso Chorão.
Pela primeira vez MV Bill falava de seu livro, respondendo uma pergunta – em uma coletiva de imprensa – feita por um interlocutor alojado no sanitário do trabalho.

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