Até quando nós vamos suportar?

Na última segunda-feira, dia 1, celebramos novamente o 1º de Maio, o Dia do Trabalhador. Mas se analisarmos bem, todo dia é nosso dia e devemos fazer uma reflexão sobre nossa condição diariamente, isso se for possível devido a toda precarização que nos afeta diretamente e diariamente.

Mas o texto que você lê neste momento não é somente para relembrarmos isso, mas também fazermos uma breve análise em como algumas bandas brasileiras, principalmente do punk, lidaram ou lidam com esse tema.

Uma das músicas que relata o cotidiano de um trabalhador nos leva à década de 1980, quando os paulistanos da Espermogramix gravaram a canção “Trabalhadores brasileiros”, na qual relatam a realidade de um trabalhador que sai de sua casa ainda durante a madrugada para encarar horas em um trem lotado, carrega sua marmita e quando chega ao local de trabalho era extremamente mal tratado por seu patrão. Só quem é empregado sabe o quanto isso ocorre, mas hoje o nome é “assédio moral”.

Também da mesma época, a banda Excomungados gravou a música “Vida de operário”. Na letra, a banda aborda a saída dos operários das fábricas, após passarem oito horas sendo explorados para conquistarem o lucro para o patrão.

GAROTOS

A banda Garotos Podres, oriunda da região do ABC Paulista, um grande polo industrial daquela época, sempre fez várias críticas, mas em 2003, eles regravaram o hino “A Internacional”, no álbum “Garotozil de Podrezepan”.

A letra da canção foi escrita pelo membro da Comuna de Paris, Eugéne Pottier, em formato de poema, após a derrota da insurreição operária que aconteceu em Paris, capital da França, em junho de 1871, que terminou com um saldo de 30 mil mortos. O texto foi divulgado somente 16 anos após ser escrito, em um livro de poemas escrito pelo autor.

Em 1888, outro trabalhador e também músico, o belga Pierre De Geyter, musicou o poema, com inspiração no hino “A Marselhesa”, da França. A música foi executada pela primeira vez em 1896, na cidade francesa de Lille, França, durante o 15º Congresso do Partido Operário Francês.

No século XX, “A Internacional” tornou-se o hino da União Soviética, após a Revolução Russa, de 1917. Também neste ano, a canção foi cantada a plenos pulmões nas ruas de São Paulo durante a greve geral daquele período, mais especificamente em julho.

E quase um século depois, os Garotos trouxeram a sonoridade punk e revitalizou o grande hino que além de prestar uma homenagem, é um convite para nos rebelarmos contra toda exploração à qual somos submetidos diariamente.

Muitas lutas foram travadas desde o advento da industrialização. Entre mortos e feridos, nossa classe conseguiu alguns avanços, mas com a evolução exacerbada da tecnologia, é preciso novamente discutir medidas de controle, afinal, hoje a exploração do trabalho não ocorre somente no espaço físico, ele também tem ocorrido no mundo virtual.

O fácil acesso à comunicação tem contribuído para que muitos de nós não consigamos mais nos desligarmos do trabalho, pois uma parte trabalha de maneira remota, sempre conectada e não conseguimos mais distinguir quem somos e quando é dia de semana ou período de descanso. O horizonte opaco que alguns vislumbraram há algumas décadas, nem isso pode ser visto nos dias atuais.

É nesse momento que vemos o quanto muitas das canções com seus mais de 40 anos ainda são muito atuais. A lista sobre a questão trabalho, greve, transcende o punk e o rock, há um lamento e crítica em quase todos os estilos musicais, mas apenas em quatro me alonguei em demasia. Talvez aborde outras músicas em alguma oportunidade vindoura.

Triste tragédia humana, que como cantaram os Garotos “caminhamos para o nada”. E para encerrar, nada melhor do que parafrasear os Inocentes: “até quando ele vai aguentar?” ou, até quando nós vamos suportar?

Ivan Gomes, 45, é produtor e apresentador do programa 3 Notas, aqui pela Mutante Rádio e torcedor do Santos Futebol Clube, sua única qualidade.

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