O Maestro do Canão, Sabotage, é sem dúvida um dos artistas mais ímpar da música brasileira. Um talento a frente do seu tempo e um dos maiores expoentes de sua geração. Sabota furou a bolha do rap e foi consumido por outras tribos: roqueiros, sambistas, adeptos da MPB e do reggae curtiam o som daquele que levava a favela do Canão em suas rimas. Para quem está imerso no rap é mais fácil para compreender a dimensão de Mauro Matheus dos Santos, pois vemos nas gerações que o sucederam todo o seu legado. Muitos usaram de referência a lírica e forma de canetar de Sabotage. No entanto, mesmo no rap ainda há quem desconheça ou simplesmente despreze o legado do rapper, um fenômeno que mescla conflito de gerações, falta de querer estudar e aprender e sobretudo de humildade para não dar valor aos que pavimentaram a estrada por onde hoje eles passam.
Sabota começou cedo no rap, no final dos anos 80. Rappin Hood conhecia o malandro e enchia o saco de Helião e Sandrão dizendo que tinham que levá-lo para a famosa laje do Helião, o templo do Hip Hop da Zona Oeste e uma espécie de escolinha de MC’s e DJ’s, em outras palavras, o QG do RZO. Um dia Sandrão e Hood foram atrás de Maurinho, deu trabalho, mas o acharam. Porém, Sabotage não podia simplesmente deixar seu trabalho – no tráfico de drogas – e embarcar em uma aventura com os dois. Era preciso falar com o dono da boca. Sabotage deu a letra e o patrão liberou, ainda arrumou uma verba para o rapper, como uma espécie de rescisão da firma. Já inteirado na Laje, Sabota mostrou seu trabalho, versos que Helião não curtiu. Não porque o trampo era ruim, mas porque era uma cópia do Mano Brown, toda a estética era inspirada no Racionais e não tinha originalidade. Coube a Helião ir lapidando o talento que enxergou em Mauro.
Na Laje, Helião era conhecido como O Presidente, Sandrão como a Majestade ou ainda O Braço Direito da Favela, DJ Cia recém-chegado na banca era apelidado de O Vilão dos Toca-Discos, faltava apelidar Sabota. Por versar sobre o lugar de onde veio, a favela do Canão, ali na Zona Sul, Hélio batizou o amigo de Maestro do Canão. O RZO foi de suma importância na carreira de Sabotage, não só por lapidá-lo, mas também por abrir as portas, o grupo de Pirituba levava Sabota aos shows e o deixava no palco, em dado momento o MC mandava seus versos.
Em 1999 o RZO lança o disco Todos São Manos, em uma parceria com a Cosa Nostra, selo do Racionais MC’s. Em 2001 estavam planejando lançar o segundo álbum pelo selo, mas o grupo achou melhor lançar o álbum solo de Sabotage, o Maestro do Canão estava pronto. Antes de gravar seu álbum, Sabotage fez participações com Thaide & DJ Hum, SP Funk e Charlie Brown Jr. O álbum de estreia de Maurinho também veio recheado de participações: Sombra e Bastardo, Rappin Hood, Potencial 3, RZO, Negra Li, Charlie Brown Jr e Black Alien. A produção também teve um time de peso, o RZO e o Racionais acompanharam de perto o processo, Daniel Ganjaman fez a produção musical. O disco teve rápida aceitação e Sabota estourou, não tardou e o malandro estava invadindo as grandes telas e tal, participou dos filmes Carandiru (Héctor Babenco, 2003) e O Invasor (Beto Brant, 2001). Sabotage compôs músicas para o cinema e mostrou seu lado versátil, ganhou prêmios e fazia aparições na TV. Tudo ia bem na vida de Maurinho, até que na manhã do dia 24 de janeiro de 2003, após deixar sua esposa na parada de ônibus, o Maestro do Canão foi alvejado por quatro tiros. Um crime que chocou a sociedade e deixou o rap de luto.
1. Um Bom Lugar
Talvez a canção mais famosa de Sabota, o título também nomeia sua biografia, escrita por Toni C. (2013). A música tem participação de Black Alien e apresenta uma mescla do rap gangsta com o underground.
2. Mun Rá
Música lançada depois de o álbum Rap É Compromisso fazer sucesso na pista. A música contém versos que fazem alusão só filme O Invasor, de Beto Brand.
3. Rap É Compromisso
Música que dá nome ao disco de estreia de Sabotage e que eterniza a frase que é repetida como um mantra por todos os adeptos do original rap nacional.
4. Enxame
Talvez a primeira gravação em estúdio de Maurinho, a música é faixa do álbum O Lado B do Hip Hop, do grupo SP Funk, onde o Maestro do Canão rouba a cena, junto do RZO.
5. Mosquito
A música abre o álbum póstumo de Sabotage (2016) e vem com instrumental agressivo, uma produção Tropkillaz que mescla o rap e o eletrônico com uma pitada de drum & bass. Na letra, Sabota revela que Mosquito foi um amigo que catou papelão para sobreviver.
6. Aracnídeo
A música esteve na trilha sonora do filme O Invasor e foi parte da coletânea (não canônica) Uma Luz Que Nunca Irá Se Apagar. Fazia parte das composições do Maestro do Canão para o filme.
7. Black Steel In The Hour of Chaos
Aqui um encontro entre Sabotage e a banda de heavy metal Sepultura. A música é inspirada em canção de mesmo nome de 1988, do grupo Public Enemy que usa sample de piano de “Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic” de Isaac Hayes no álbum Hot Buttered Soul de 1969.
8. A Banca
A música é do terceiro álbum do Charlie Brown Jr, Nadando com Os Tubarões, disco que também contou com participação do De Menos Crime. Na música “A Banca”, RZO, Sabotage e Chorão rimam sobre o consumo de drogas na periferia. O CBJR faz um groove tenso na cozinha e DJ Cia comanda os scratches com colagens de Racionais e Facção Central.
9. Cocaína
Outra faixa do álbum Rap É Compromisso, aqui a participação é da dupla oriunda do SNJ, Sombra e Bastardo, e como o título sugere, a música fala sobre o pozinho branco e deu poder destrutivo.
10. Maloca É Maré
Outra música do álbum póstumo de 2016, essa conta com as participações de Funk Buia (Z’África Brasil) e Rappin Hood e traz um beat com pitadas de samba, mostrando a versatilidade de Sabota.
12. Marginal Alado
Essa foi uma parceria entre Chorão e Sabotage inspirada na música “Walk This Way”, de 1986, que juntou Run DMC e Aerosmith. Nessa música, o Charlie Brown Jr executa o instrumental de “Back in Black” da banda AC/DC.
13. Cabeça de Nego
O Maestro do Canão fez várias colaborações com o coletivo Instituto, de Rica Amabis, Tejo Damasceno e Daniel Ganjaman. Em 2002 o grupo lança o álbum Coleção Nacional e Maurinho arrisca mais uma vez no samba. Como curiosidade, a paranaense Karol Conká regrou está música de Sabota.
14. Dama Tereza
Essa é outra música presente no álbum Coleção Nacional. Novamente embalado pelo samba-rap, Sabotage rima como um verdadeiro partideiro e surpreende pela qualidade e versatilidade poética e de flow. Como o próprio Mauro Mateus falava: “um encontro de Eminem e Pixinguinha”.
15. Cantando Pro Santo
Última faixa do disco Rap É Compromisso e que traz a participação do Chorão, que faz citações ao RZO e SNJ, além da sua banda, o Charlie Brown Jr, em uma canção que fala sobre união e fé. Para ajudar a ambientar a música, a produção usa samples de voz Bob Marley and The Wailers em “Waiting in Vain” do álbum Exodus de 1977. Já o instrumental é inspirado em “Oboe”, do Jackie Mittoo, do álbum Showcase de 1978.
16. A Cultura
Rappin Hood e o grupo Potencial 3 participam da música “A Cultura”, som que íntegra o primeiro disco de Sabota. A canção fala sobre a cultura Hip Hop e foi produzida por Helião e Zegon. O Rapper Djonga sampleou essa faixa na música “Corre das Notas” em 2017, no álbum Heresia.
17. País da Fome
Essa faixa tem algumas versões… A primeira está no álbum Rap É Compromisso, com participação do RZO, Helião, Sandrão e Negrútil fazem as dobras. O sample usado é de “Ebony Tower”, de Michael Coliccio, lançada em 1999, no álbum Emperor Norton. Depois, no álbum não canônico, Sabotage Uma Luz Que Nunca Irá Se Apagar, é lançada a música “País da Fome Parte II”, com algumas alterações na letra e agora com instrumental com sample de “If You Can’t Say No”, de Lenny Kravitz, no álbum 5 de 1998. Por fim, em 2016, quando é lançado o álbum póstumo de Sabota, vem a faixa “País da Fome – Homens Animais”, que inicia com colagens da reportagem que noticiava a morte de Sabotage e surpreende pelos novos arranjos e produção moderna.
18. Quem Viver Verá
Com produção de DJ Cia (RZO) e participação de Dexter (ex-509-E) a música apresenta uma dobradinha que há muito tempo os fãs queriam ver, mas que infelizmente não aconteceu enquanto Sabotage estava vivo. De todo modo, Dexter representou e honrou a memória do amigo.
19. Levada Segura
A música reúne Mr. Bomba (SP Funk), Fernandinho Beatbox (ex- Z’África Brasil) e Maurinho. Com um. Instrumental mais hardcore, Bomba dá um salve em um dia amigos do Maestro do Canão, João Gordo, líder da banda Ratos de Porão, que despensa apresentações.
20. Canão Foi Tão Bom
Para finalizar, uma das mais bonitas composições de Maurinho, mas um verso que chama muito a atenção é do DBS, amigo de Sabota desde os tempos do RZO. O Gordão chefe rima: “Negrútil nos deixou, cuida dele, Sabó”. Em 2009, o rapper Negrútil veio a falecer vítima de parada cardiorrespiratória, Útil, Sabota e DBS faziam parte do RZO. Também participa da faixa Instituto, Lakers e pá e Negra Li, outra da Família RZO.
